20/10/2017

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“A expressão «turismo de qualidade» significa, traduzida em miúdos, o turismo destinado a gente com contas bancárias chorudas, de preferência estrangeiros oriundos de «países bons». Para as restantes multidões o turismo não tem de ser «de qualidade», basta ser uma merda qualquer.”
Júlio Henriques, “Alucinar o Estrume”, pág. 37, Antígona, 2017, Lisboa.

17/10/2017

21 e 22 de Outubro — das 14 às 23 H (Sábado); das 14 às 20 H (domingo)



PROGRAMAÇÃO mais informação - AQUI


LISTA EXAUSTIVA DE EDITORES E IMPRESSORES CONFIRMADOS COM BANCA

DURANTE A OCORRÊNCIA (CERCA DE 40 EDITORES CONFIRMADOS):


100 Cabeças; Antígona; Atelier Guilhotina; Bárbara Lopes; Chili com carne/ MMMNNNRRRG; Clube do Inferno; Clube dos tipos/ Editora dos tipos; Cronópio; Debout sur l'Oeuf/ Do Lado Esquerdo; Dedo Mau; Douda Correria; Edições 50kg; Edições do Saguão; Edições do Tédio; Elena Sanmiguel Urbina; Fanzines e Martelos; Filipe Felizardo; Formandos curso auto-edição Oficina do Cego; Galho; Hélastre; Imprensa Canalha; Letra Livre (representando também Averno, Língua Morta e Fenda); Linha de Sombra; Livros de Bordo; Maldoror; Mia Soave; Mike Goes West; Momo; Não edições; O Corvo da Bad; O Gato Mariano; O Homem do Saco; Oficina Arara; Oficina do Cego; Orfeu Negro; Papeleiro Doido; Pé de Mosca; Quarto de Jade; Serrote; Sílvia Rodrigues; Stet; Stolen Books; Tipo PT; Triciclo; Urubu; Vintage Warehouse; Xavier Almeida; Xerefé; XYZ.


+ BANCA DE ALFARRÁBIO E SEGUNDA MÃO

15/10/2017

"TRÊS AMERICANOS



Donde vêm?
De toda a parte.
Para onde vão?
Para o dinheiro."

Eça de Queirós, “Notas Contemporâneas”, pag. 407, Livros do Brasil, Lisboa.

Ozumorandi...


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“Em Portugal há só um homem – que é sempre o mesmo ou sob a forma de dandy, ou de padre, ou de amanuense, ou de capitão: é um homem indeciso, débil, sentimental, bondoso, palrador, deixa-te ir, sem mola de carácter ou de inteligência, que resista contra as circunstâncias. É o homem que eu pinto [Os Maias] – sob os seus costumes diversos, casaca ou batina. É o português verdadeiro. É o português que tem feito este Portugal que vemos… “

Eça de Queirós,”Notas Contemporâneas”, pp. 405-6, Livros do Brasil, Lisboa.

30/09/2017

SOBRE O TURISMO…

“ - agora que percorrer o mundo já não é, como no século XV, empreendimento de grande confusão, alarido e dano. Com todos os nossos mares aclarados, nenhum tenebroso, e divertidos hotéis boiantes para os atravessar, providos de adega, de inglesas sensíveis, - milhares de sujeitos, constituindo já uma classe, possuindo já um rótulo, globetrotters (trotadores do globo), trotam, assobiam, dão vivamente a volta ao Mundo, com a facilidade, se não a filosofia, do fino De Maistre dando a volta ao seu quarto. Mas estes sujeitos trotam, «para se dissiparem, não para se acrescentarem», segundo a forte expressão eclesiástica – e no seu trote contínuo através dos continentes vão assobiando, porque não vão pensando."

Eça de Queiroz, “Notas Contemporâneas”, pág. 363,Livros do Brasil, Lisboa.

SOBRE VOTAR…


“Depois, a presença angustiosa das misérias humanas, tanto velho sem lar, tanta criancinha sem pão, e a incapacidade ou indiferença de monarquias e repúblicas para realizar a única obra urgente do mundo «casa para todos, o pão para todos», lentamente me tem tornado um vago anarquista entristecido, idealizador, humilde, inofensivo… Anarquismo mesmo vago; tristeza, mesmo filosófica; idealização, mesmo escondida não compõem um bom cortesão.”

Eça de Queiroz, “Notas Contemporâneas”, pp.359-360,Livros do Brasil, Lisboa.

27/08/2017

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FACTOTUM: Há o Teatro D. Maria, que se não apresenta cem quadros dá-nos em cada melodrama cem mortes, duzentas choradeiras e quatrocentos reconhecimentos!
COMETA: Belo, belo! Venha ao Teatro D. Maria! Eu sou doido por emoções fortes! (Música)
1.º NOTICIARISTA: Silêncio, aí o tem justamente num lance bem patético, numa cena de reconhecimento!
DAMA (entra em cena espavorida, com os cabelos caídos): É possível? Meu pai?... Ele?... Ele?... E o meu coração não me dizia nada… (Indo lançar-se-lhe nos braços) Ah!... Meu P a a a a a i!
PAI (correndo da direita com os braços abertos): Minha F i i i i lha!
AVÓ (idem da direita): Minha neta!
NETA (idem da esquerda): Minha Avó!
DAMA (idem da direita): Meu esposo!
ESPOSO (idem da esquerda): Minha Esposa!
(Saindo ao mesmo tempo de diversas partes, caindo todos nos braços uns dos outros e soluçando sobre o ponto, este abre um guarda-chuva)
TODOS (dando muitas palmas): Bravo! Bravo! Bravo!
COMETA (limpando os olhos): É bonito, mas sensibiliza de mais!
PAI: É tarde meus queridos filhos! Agora que afinal sou venturoso não quer a desventura que eu sobreviva à minha ventura! (Cambaleia)
TODOS: Bravo! Bravo!
COMETA (ao mesmo tempo): Bravo! Que pureza de linguagem!
PAI: Sinto-me desfalecer… um veneno fatal percorre as minhas veias… Adeus, eu morro!
TODOS: Envenenado?! Ah!
PAI (ansiando): Sim, meus filhos, mas vou morrer lá p’ra dentro para não entulhar a cena! (Sai aos pulinhos)
TODOS: (os de D. Maria II): Oh! Não, não; não lhe devemos sobreviver!
(Tiram frascos d’água-de-colónia e garrafinhas caricatas, que põem à boca, bebem e vão para dentro tragicamente, figurando que se envenenaram.)

O Melodrama e a Mágica” in «Revista do Ano 1858» de Joaquim António de Oliveira.

21/08/2017

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“Não há poema sem acidente, não há poema que não se abra como uma ferida, mas também não o há que não fira”

Jacques Derrida, “Che cós'è la poesia? Angelus Novus, Coimbra, 2003.

17/08/2017

Restauro...


Biopolítica...

"(...) o escritor, há cem anos, dirigia-se particularmente a uma pessoa de saber e de gosto, amiga da eloquência e da tragédia, que ocupava os seus ócios luxuosos a ler, e que se chamava «o Leitor»: e hoje dirige-se esparsamente a uma multidão azafamada e tosca que se chama «o público».
(...) a ideia de leitura, hoje, lembra apenas uma turba folheando páginas à pressa, no rumor de uma praça."

Eça de Queiroz, “Notas Contemporâneas”, pág. 96, ed. Livros do Brasil, Lisboa.
 
"Quem lê hoje Homero? Quem lê Dante? Qual de vós, qual de nós leu a «Odisseia» e «Os Sete diante de Tebas», e Sófocles, e Tácito. e o «Purgatório», e os dramas históricos de Shakespeare, e até Voltaire, e até Camões? Decerto têm-se opiniões sobre o «nosso estilo de Tácitos», e a «ironia de Aristofánes»; mas essas sentenças transmitem-se, já feitas, para uso da eloquência, um pouco apagadas e cheias de verdete, como os patacos que vão de mão em mão."

Eça de Queiroz, “Notas Contemporâneas”, pág. 93, ed. Livros do Brasil, Lisboa.

15/08/2017

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“Claro que vai sendo difícil saber-se o que é uma literatura (uma arte) revolucionária, qual o seu grau de incidência num contexto social marcado pelo predomínio cultural e económico das classes burguesas. É nestas, já se sabe, que se recrutam os consumidores “cultos”, ávidos de “surpresas”, abertos às “inovações”. Aquela burguesia insatisfeita culturalmente mas muito instalada nas suas prerrogativas económicas devora tudo, inclusivamente o que a “contesta”. Este o drama das estéticas ditas de “vanguarda”, cedo transformadas – e conformadas – em novos academismos. Elas, por si só, não constroem um novo sistema cultural: muito pelo contrário, dão injecções de vitalidade ao sistema estabelecido. Julgando destruí-lo, prolongam-no. Querendo-se bombas, verificam-se (quando dão por isso) bichas de rabiar – atrevidas, barulhentas, divertidas, inofensivas.”

Vitor Silva Tavares, “Notas para um Prefácio (a Haver) com Pedido de Posfácio”, pág. 14, ed. Viúva Frenesi, Lisboa, 2017.

14/08/2017

Ferros Novos...













“Meu Querido Mês de Agosto”...


“Quando chego a Portugal, depois de um ano de Inglaterra – além de tanta, tanta, coisa que estranho – há uma coisa que me deslumbra, e outra que me desola: deslumbra-me as fachadas caiadas, e desola-me a população anémica. Que figuras! O andar desengonçado, o olhar mórbido e acarneirado, cores de pele de galinha, um derreamento de rins, o aspecto de humores linfáticos, a passeata triste de uma raça caquética em corredores de hospital: e depois um olhar de vadiagem, de «ora aqui vou, sim senhor, de madricice, olhando em redor com fadiga, o crânio exausto, e a unha comprida, para quebrar a cinza do cigarro, à catita.”

Eça de Queiroz, “Notas Contemporâneas”, pp. 38-9, ed. Livros do Brasil, Lisboa.

25/07/2017

ENTRE BERNARDIM E SÁ CARNEIRO...


Vilancete

Entre mim mesmo e mim
não sei que se alevantou,
que tão meu imigo sou.

Uns tempos, com grande engano,
vivi eu mesmo comigo,
agora no mor perigo
se me descobre o mor dano.
Caro custa um desengano
e pois me este não matou
quão caro que me custou.

De mim me sou feito alheio,
entre o cuidado e cuidado
está um mal derramado
que por mal grande me veio.
Nova dor, novo receio
foi este que me tomou:
assim me tem, assim estou.
 
BERNARDIM RIBEIRO
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eu não sou, eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.

MÁRIO SÁ-CARNEIRO
 
CORRUPTELAS DE O’NEILL E DE VITOR SILVA TAVARES
 
Sá de Miranda Carneiro

comigo me desavim
eu não sou eu nem sou o outro
sou posto em todo perigo
sou qualquer coisa de intermédio
não posso viver comigo
pilar da ponte de tédio
não posso viver sem mim
que vai de mim para o Outro
 
ALEXANDRE O´NEILL
 
 
 
 
 
 
Eu não sou, eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte do Tejo
 
VITOR SILVA TAVARES