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19/05/2018

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Um debate "Animado" (mas não foi a Porto Lazer), no Palácio da Bolsa em 14_05_2018 que quase não foi noticiado. Numa iniciativa da união de freguesia do centro histórico do Porto. Viu-se a indignação dos cada vez menos moradores 'autóctones' contra os despejos derivados desta especulação imobiliária, ganância, e turistificação selvagem...

28/01/2016

"A CIDADE VAI MORRENDO, MAS HÁ FESTA"...



«Não consigo calar o desabafo. Talvez pelo sentimento que perpassa de guerra perdida. Hoje, lá foram mais uma vez, moradores que ainda vão resistindo, cada vez com mais baixas, na denominada zona de(s)marcada da movida, sempre em expansão, com os estabelecimentos de animação nocturna a tomar conta do centro do Porto. 
Reclamações de treze anos sobre o ruído noturno, a limpeza e o estacionamento, que tornaram a vida destas pessoas num inferno. A Indiferença com que hoje as suas queixas são ouvidas, quer pelos poderes municipais, quer pelos poderes mediáticos, mostra bem a escolha que há muito se fez, de transformar o centro da cidade num enorme bar/discoteca a céu aberto, aliás um modelo desenvolvimento da cidade assente nisso e na monocultura do turismo. Os moradores existentes eram por isso um estorvo. No espaço de uma década deu-se mais uma machadada, talvez derradeira, na identidade da cidade. Os milhares que aqui viviam foram paulatinamente desaparecendo no mesmo rácio em que aumentava o número de bares, discotecas e outros espaços de denominação difícil, que vendem bebidas para rua. 
Os milhares, entre a desistência e a lei da vida, a morte, foram transformando-se em centenas, cada vez contando menos, hoje cada vez menos ainda, entre o nada fazer ou fingir fazer dos poderes públicos. Este processo de expulsão e não renovação do tecido residente, é de facto a última das grandes migrações e expulsões das gentes da cidade, depois das expulsões das gentes da zona ribeirinha para a periferia da cidade, para bairros sociais e mesmo para fora cidade, nomeadamente para Gondomar e Gaia. 
Com ela também foi o pequeno comércio tradicional, os artesãos e os serviços de proximidade de apoio às famílias, com as rendas a tornarem-se insustentáveis e base residente em erosão e a envelhecer. O centro da cidade transforma-se num deserto de residentes, numa enorme Santa Catarina, onde ninguém lá vive, com a diferença que a rua vazia é transformado em tráfego humano noctívago, muito dele importado. 
A manhã guarda os despojos das noites em ruas desertas de estabelecimentos abertos, aguardando o entardecer. Este é o cosmopolitismo pós-moderno, que domina quem governa a cidade, com desdém pelas gentes e origens da cidade que deram alma ao Porto, invicta. Pseudo modernidade, serôdia, com q.b. de provincianismo, que faz desaparecer o Porto que conhecemos, deixando apenas memória e vestígios arqueológicos, algum património cultural e polvilhos de cultura, a dar nome aos eventos de encher o olho e h(á) festa. Os holofotes cegam, até a comunicação social domesticada. Resta a impunidade.
A cidade como a conhecemos vai morrendo. A dita modernidade faz-se contra o passado, as suas gentes, a sua identidade, aquilo que a diferencia. O plástico gourmet toma conta. O Porto morre entre o fantasma de vida. Mas há festa. Muita festa. E Eles continuam a dançar. Seremos todos espectadores desta dança? Até quando?»
Pedro Carvalho
Vereador na CMP

01/08/2012

Meu filho...


 “Por vezes, negoceiam particularmente o bem público; se isto porém é dito publicamente, ofendem-se porque consideram que se trata de uma ingerência na sua vida particular. Todo o filho-de-deus é altamente cioso do prestígio da sua vida particular, porque a vida particular (ou de família) dos filhos-de-deus é quase sempre, de uma ou outra maneira, pública. Trata-se de uma clarificação importante. Todo o filho-de-deus tem sempre um motivo público para os seus actos familiares e um motivo familiar para os seus actos públicos. Todo o filho-de-deus tem vocação pública, dado que se ocupa e preocupa tanto com os outros; no entanto, o grande estilo dele, do filho-de-deus, consiste num modo familiar de ser público, um modo quase sempre tão familiar que é frequente não se saber onde termina o filho-de-deus público e começa o familiar, o outro limiar, como é óbvio.
Por isso sempre

que o filho-de-deus especializado em fazer faz um acordo público, é difícil saber se é um acordo público que traz préstimos particulares ou se é um acordo particular feito de prestações públicas, e o mesmo acontece sempre que ele, o filho-de-deus, faz todas as outras coisas que o filho-de-deus faz, as obras públicas feitas por motivos particulares, os programas de ensino público decretados com intenções particulares, as guerras públicas movidas para obter vantagens particulares, os jornais públicos cujo préstimo é relatar sobretudo os prestígios e desprestígios particulares, os estabelecimentos públicos para ocupações particulares, a assistência pública para lucros particulares, em suma, os negócios públicos feitos para fins particulares (ou de família) e os negócios particulares (ou de família) feitos com meios públicos, e basta.”

Alberto Pimenta in ‘Discursos Sobre o Filho-de-Deus’, 1ªed, Edições Mortas, Porto, 1995