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12/11/2012

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“… Às vezes ALGUÉM, estranho de todo ao corpo e à sensibilidade, aos interesses de SI, é que toma a palavra.
                Vê e qualifica com frieza a vida, a morte, o perigo, a paixão, todo o humano do ser – como um outro, uma testemunha toda inteligência…
                Será a alma?
                Claro que não. Pois está como que além de toda a «afectividade». É o conhecimento puro com uma espécie de singular desprezo e alheamento do resto – como um olho a ver o que vê, sem lhe atribuir nenhum valor não cromático… Capaz de contar os botões ao fato do carrasco…”

Paul Valéry in ‘Senhor Teste’

01/08/2012


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                O tom do autor é um facto capital. Através do tom adivinha-se para quem se está a dirigir: imaginemos uma assistência pouco reflexiva, uma multidão, uma pessoa superficial imprescindível de deslumbrar, aturdir ou agitar; ou então imaginemos um indivíduo desafiador, ou as pessoas que praticam a arte de tagarelar, que tudo acolhem, captam, adiantam-se, ainda que anulem tudo quanto foi escrito.
                Poder-se-ia dizer que algumas pessoas jamais pensam na resposta silenciosa do seu leitor. Escrevem para os seres ávidos de admiração.
                O homem, o poeta entregue à sua inconsciência encontra nesta a sua força e a sua «verdade», conta cada vez mais com a estupidez do leitor.

p.30

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                O conceito de «grande poeta» produziu um grande número de poetas menores do que seria razoável esperar das combinações da sorte.

p.32

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                Não ser poeta, escritor, filósofo segundo estas idéias mas como se eu tivesse de ser antes contra elas.
                Até mesmo não ser homem.

p.33

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                Um livro não é mais do que a síntese de um monólogo do seu autor. O homem ou a alma fala por si mesmo; o autor retira algo desse discurso. A eleição depende do seu amor próprio: compraz-se com tal pensamento se odeia o outro.
                O seu próprio orgulho ou os seus interesses deixam acontecer e aquele que gostaria de ser elege o que é.
                Eis uma lei inevitável.
                Se tivéssemos acesso a todo o monólogo poderíamos descobrir uma resposta exacta para esta questão, mais categórica e que pudesse estabelecer a crítica legítima diante de uma obra específica.
                A crítica quando não se limita a opinar segundo o humor, as predileções e os gostos – ou seja, quando não está a falar de si mesma, sonhando como se estivesse a discutir sobre uma obra concreta –, a crítica ao julgar estaria a comparar as pretensões do autor e o que foi realizado. Enquanto o valor de uma obra se funda na relação singular e inconstante entre uma obra e algum leitor; o mérito próprio e intrínseco do autor constitui a relação entre ele mesmo e o seu desígnio. Tal mérito tem relação com a distância a existir entre ambos: são as dificuldades medidas de acordo com o grau de complexidade para acabar com essa empresa.