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17/05/2015

Ora diga 33...

Em Portugal, parece que esse tal otimismo da vontade está a diminuir. As manifestações estão a tornar-se cada vez mais eventos vazios sem consequências práticas...
Tem havido um decréscimo drástico da democracia na Europa. E é compreensível. “The Wall Street Journal” apontou correctamente há alguns anos que não importa que partido ganhe as eleições, sejam os comunistas, os fascistas ou algum outro partido no meio irão sempre aplicar as mesmas políticas, porque as políticas não estão nas mãos das populações mas estão sempre determinadas pela burocracia em Bruxelas que tem em cima dos ombros a pressão dos bancos alemães. Mas não devemos aceitar isso. Por exemplo, quando há semanas o Governo português recusou solidarizar-se com o Syriza e decidiu seguir as políticas e mandamentos dos bancos alemães, a população não deveria ter aceitado. O Governo não está livre do poder público.

Quer dizer que nós portugueses, assim como os espanhóis e os gregos, não deveríamos pagar a dívida?
Bem, uma grande parte da dívida é aquilo que na terminologia legal se chama de “dívida odiosa”, ou seja, uma dívida que não é da responsabilidade das populações. Trata-se de um conceito da lei internacional criado pelos EUA e que remonta há mais de um século. Quando os EUA conquistaram Cuba. Em 1898, não queriam pagar a enorme dívida que cuba tinha em relação a Espanha. Então os EUA determinaram que a dívida não tinha sido contraída pelo povo cubano, mas pelos ditadores, os colonizadores. Portanto, a dívida foi considerada ilegítima e não teria de ser paga. Este é um conceito que tem sido aplicado uma série de vezes. Se olharmos para as dívidas de países como a Grécia, Portugal e Espanha, são contraídas por banqueiros, governantes e elites. As populações não têm nada a ver com isso e portanto não existe qualquer razão para pagarem.


Noam Chomsky, in “Passeio Público 33 minutos com...” Entrevista de Bernardo Mendonça, Catarina Pomba Nabais e Diogo Silva Cunha, 'E' a Revista do Expresso Edição 2220 de 16/Maio/2015.