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18/03/2013

Astro físico...


HOMENAGEM A EDDINGTON

                A juventude dizia: Eu quero viver. A velhice dizia-o também. A juventude dizia: Vamos matar a velhice. A velhice dizia: A juventude mata-me. Mas, no fundo, era a velhice que matava a juventude com a astúcia lenta dos chineses.

                
O presente mantinha-se de pé, chamavam-lhe futuro e passado, ontem e amanhã. Sacrificavam-lhe homens e actos. E ele digeria tudo com o seu ventre repleto de astros mortos.

               
  O homem dizia: Estou preso entre quatro muros. E o tempo e o espaço diziam: Está livre, meu amigo, está livre. Não vê? Não vê que falta o quarto muro?

Jean Cocteau, “Tanta Coisa Para Dizer”, p.16, Língua Morta, 2012.

01/03/2013

«O Juiz»...



O JUIZ


            O ódio que os poetas inspiram é tão grande que os amarram a uma espécie de rodas quadradas e os lançam do cimo de ladeiras que terminam em covas cheias de animais ferozes. Uma alegre multidão de feira assiste a este suplício. Nada a diverte mais do que os sobressaltos das rodas quadradas até à cova onde os animais esperam. Às vezes os animais ferozes deitam-se e lambem, os pés das vítimas. A multidão enraivecida insulta, então, os animais e chama-lhes cobardes. Já assisti a este suplício. Por sorte não me acusaram de ser poeta. Mas reparei que um dos juízes me observava com aversão, pelo canto do olho.

Jean Cocteau, “Tanta Coisa Por Dizer”, p. 24, Língua Morta, Lisboa, 2012.
Trad. de Inês Dias