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11/05/2015

E foi mais ou menos assim...

Foto cedida por António Silva Oliveira

Carlos Alberto Machado         foto:ASO

Pôr as Pernas do Lado da Cabeça e Partir        foto: ASO

ASO

Porto, Sismógrafo 9 de Maio de 2015

29/04/2015

Dia 9 de Maio às 21h30...

"Pôr as Pernas do Lado da Cabeça e Partir" de Carlos Alberto Machado 
capa de Fabrizio Matos
No Sábado, 9 de Maio pelas 21h30, será apresentado o livro “Pôr as pernas do lado da cabeça e partir” de Carlos Alberto Machado (n. 1954), Edições 50kg, no espaço Sismógrafo no Porto. E contará com a presença do autor. O título deste livro, que é um único poema, pode ser encontrado num verso final de um poema que foi publicado em A Realidade Inclinada (ed. Averno 2003), “/ agora é só pôr as pernas do lado da cabeça e partir” (pág. 39).
 Rememorações, divindades perdidas, um solo de cantor desolado, um corpo que se desfaz em duplos (whiskeys?) mas nunca em cúmplices. É uma viagem ao final da noite, mas cruzando o Céline, o Joyce com Xavier de Maistre e com o fôlego de quem só tem um dos pulmões e sabendo, também, que a noite é um teatro de sombras. Uma viagem é um fracasso quando tem por destino um regresso. O quê? Da morte não há regresso? Então é boa viagem…
RAR

14/04/2014

O "Coração Quase Branco" segundo Carlos Alberto Machado

"É no que dá um iogurte estragado: náusea repentina, vómitos disfarçados de arrotos, cólicas intestinais. Sanita comigo. E logo logo para a cama – a prevenir achaques maiores com a ajuda de uma infusão de macela e cidreira.
Aproveito a frouxidão inesperada do corpo e o repouso de meio da tarde para ler. Entre compras e ofertas recentes, decido-me pelo “Coração Quase Branco”, do António Cabrita – livro da 50 Kg (como habitualmente composta em caracteres móveis e com impressão a condizer), que o seu editor, o poeta Rui Azevedo Ribeiro, me tinha dado em Coimbra, no Mal Dito, meia dúzia de dias antes.
Começo a leitura meio distraído, a dor de cabeça, fininha, chateia. Mas, entre o ir e o voltar à primeira linha do texto, entro no “tom” do Cabrita – e desperto completamente quando leio “Dácio”, Ricarte Dácio, o intelectual culto, homem subtil e afável, delicado, gentleman, mecenas das literaturas e das artes, o mesmo Dácio que um certo dia (há uns seis anos?) pegou numa caçadeira e matou a mulher, o filho, o gato e a ele próprio.
Conheci o Ricarte Dácio nas noites do café Monte Carlo, do bar Bolero, do Ritz Club, do Cantinho dos Artistas no Parque Mayer, nos finais de tarde do café Expresso e das Galegas; nos dias fervorosos da Revolução e nos dias apaziguantes e lassos da democracia pós 25 de Novembro. Em 2010, quando estive em Maputo, a figura do Dácio e a sua morte incompreensível, e tão silenciada, meteu-se na conversa entre mim e o Cabrita, que teve com ele uma relação mais próxima.
Para além das circunstâncias de natureza pessoal, o curto texto – 12 páginas – é uma peça de uma grande inteligência e sensibilidade, na linha de um Pacheco da “Comunidade” ou de um Virgílio Martinho de “O Relógio de Cuco”. O Cabrita cruza a história de vida do Ricarte Dácio com a sua (em Maputo), “cobarde e falido de esperança e qualidades” e dá, a uma e a outra, as voltas necessárias para que entre os actos literários e os actos de vida se teça uma poderosa e inextricável teia de sentidos. E se ele, Cabrita, “falido, causticado e doente”, “tivesse à mão uma caçadeira e um punhado de munições (…) e acabasse esta agonia com três tiros, alguém se lembraria de duvidar que pudesse ter sido um gesto tão hediondo? Alguém, ao menos, colocaria dúvidas? Será que as merecia? Porque não há modo de suportar ‘corajosamente e sem dor’ a decadência mental que nos vela já o cadáver, a puta que os pariu. É um contra-senso, e vale o esforço de respirar para o cheiro a trampa?”
A minha alma débil (os meus intestinos, parece, partilham da mesma índole) arrebita com uma escrita como esta – e com a atitude pessoal do Cabrita: pegar a coisa pelos cornos é que dá tusa, e não essas coisas vagamente literárias de filhos de tordos que voam, serôdios, para as terras brasis, e a respectiva democracia que apenas existe nos ditos média e redes sociais. Literatura e democracia que nunca hão-de saber quem foi o Ricarte Dácio e tudo o que ele representou, mesmo que o Cabrita lhes mande aos cornos, com toda a força, este “Coração Quase Branco”.
Morre-se disto, desta democracia estragada. De iogurte estragado, parece que não."

CARLOS ALBERTO MACHADO

RETIRADO DAQUI